Felizes são os Ursos


Aquela famosa frase que o cantor Sílvio Brito escreveu em uma de suas canções, e que depois o Raul Seixas também musicou, “Pare o mundo que eu quero descer”, está mais evidente para mim nos tempos atuais, digo isso, pois o mundo está assumindo tal velocidade que chega a me dar náusea em acompanhar tamanha velocidade. O problema que não é só a náusea, é o medo, o medo de ver para onde isso tudo está indo.
Geralmente quando converso com algumas pessoas e essas são mais instruídas é um sacrifício, pois elas me contagiam com a ansiedade que sentem, a pressa, de tempo em tempo olham para relógios meio que disfarçadamente, ou para celulares, dando a impressão de que ou o assunto em questão é chato, ou que estou atravancando o tempo precioso dela, ou que ela está sempre atrasada para algum compromisso.
Percebo uma sintonia estranha entre os estudantes, geralmente alguns me dizem, sabe eu quero estudar, me formar para ter um conforto, para viver bem, mas geralmente o sujeito fica neurótico, parece que está numa constante guerra, e que o inimigo é sempre aquele que está ao seu lado.
Quando se graduam precisam se pós graduarem, mestrado, doutorado e cursos infindáveis de especialização, mas é estranho, nessa busca, é que justamente o sujeito se forma, por exemplo, para apertar um parafuso e ali ele se especializa e o resto do mecanismo da empresa passa a não interessar a ele.
Conheço pessoas que quando vêem os livros que leio torcem o nariz, isso não me acrescenta nada de imediato pensam, dizem, eu preciso ler na minha área, dão a impressão que não se entretém, não se divertem sem deixar de lado a vigília na malfada carreira.
Quando disse para uma conhecida que queria fazer faculdade de história parecia que estava blasfemando, você é louco, professor de história não ganha nada, vai sofrer, vai comer o pão que o diabo amassou, pensei! e minha satisfação, o meu desejo não conta? O que conta é desejo que se impõe sobre mim, o controle por rédeas invisíveis?
Faz algum tempo fui ao shopping lugar que detesto, é assim um detestar gratuito, mas precisava ir, pois o livro que queria comprar só acharia no livraria de lá, entrei e geralmente não faço firulas, gosto de ser objetivo, entro sabendo o que quero comprar e vou para o caixa, mas a moça gentilmente me disse que tinha um livro que estava vendendo bastante e que vejo cada vez estudantes de administração devorar suas folhas como uma nova bíblia. O livro em questão que a moça me mostrou e foi logo dizendo com aquele discurso clichê de telemarketing americano, esse livro vai transforma sua vida, pensei será que ele já vem com um cheque avulso, mas não era, era fórmulas milagrosas de como conviver em harmonia com a chefia e ao mesmo tempo com os comandados da empresa que você administra, o título era bem interessante confesso, O Monge e o executivo, comprei, li o livro numa desmotivação tremenda esse foi o primeiro sintoma que causou em mim e logo depois do seu término realmente tinha transformado minha vida, pois fiquei com uma vontade louca de ler Robson Crusoé novamente e me manter lá como ele na ilha deserta, com sorte quem sabe encontraria um amigo como ele encontrou o Sexta-feira.
Quero deixar bem claro que não sou contra isso tudo, cada um faz da sua vida o que bem entender, mas espero que quando esse mundo louco, solto e cada vez mais veloz passar pelo o meu quintal, que deixe as roupas no varal, os passarinhos cantando e me encontre confortavelmente lendo um livro qualquer de romance bastante volumoso para que quando eu terminar caia imediatamente num sono profundo. Felizes são os ursos que hibernam no inverno.

Paulo Valadares


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